jueves, 18 de febrero de 2021

PASAMAYO (cuarto poema)

 

[Un poco de sol dentro de otros]

Un poco de sol dentro de otros

Dentro de otro

Una masa un búfalo una bocaza enorme

Tan sedienta

Tal como Jonases dentro del sol

Entonces

Dentro de aquella tan íntima estrella

Ver mis plumas salir

Allí

Ver mis branquias brotar

De a pocos mostradas al aire

Ver mis penes múltiples

Mucho más vivos

Por nuestra cintura estrecha

Que cuando nos referimos

Al vuelo humano

No nos queda sino más remedio

Que recurrir a la imagen de las alas

Así que en verdad no hay pene alguno

Ni vulva alguna

Y edad ninguna

Sino una forma de lava del amor

En múltiples amores desbordada

Sino una suerte de cuenco de olla

De denso y tupido abismo

E irrefrenable deseo

He muerto así es la muerte

Y sólo la muerte porque ya no es la vida

Una muerte que debe morir que quiere

Con urgencia morir

Precipitadamente morir

Morir y morir para siempre

 © Pedro Granados, 2021


lunes, 8 de febrero de 2021

[Um animal]/ Amálio Pinheiro (trad.)


 Um animal

Alcança uma linda flor

Uma palavra escutada

Enterrada entre a poeira

Inabitável por agora

Uma palavra que te possibilitou viver

Em meio à humilhação

E o desamparo

Uma palavra retorcendo-se muda

Dentro do lodo

Dessa folha um fruto o ramo a árvore o mundo

Tudo isso orfandade

Uma palavra saída da tua boca

E contra nosso peito

Dardo e tocha fumegantes

Uma palavra que é deste mundo

Ou de qualquer outro

Embora intensamente vivida

Incandescentemente vivida

Melhor diríamos agora

Uma rede inflamada

Cobrando-te de cabo a rabo

Para sempre

Pedro Granados, A mirada (São Paulo: Escombros Editorial, a publicarse próximamente). Versión de Amálio Pinheiro*


[Un animal]

Un animal

Llega hasta la más bella flor

Una palabra escuchada

Enterrada entre el polvo

Inhabitable por ahora

Una palabra que te permitió vivir

Entre el absurdo

El  desamparo

Una palabra retorciéndose muda

En medio del lodo

De la hoja el fruto la rama el árbol el mundo

Todo ello huérfano

Una palabra salida de tu boca

Y contra mi pecho

Dardo y cigarro humeantes

Una palabra que es de este mundo

O de cualquier otro

Aunque intensamente vividos

Incandescentemente vividos

Mejor diríamos ahora

Una trampa una red inflamada

Cobrándote de cabo a rabo

Para siempre

Pedro Granados, La mirada (Buenos Aires: 2020)

*Amálio Pinheiro é poeta, tradutor e professor no Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP. Coordena o Grupo de Pesquisa “Barroco e Mestiçagem”, onde se investigam as relações entre as áreas de literatura, comunicação e cultura na América Latina, ao mesmo tempo em que se experimentam modos de conhecimento não dualistas para o continente. Tem produzido ensaios e traduções comentadas de autores da Espanha, da América Latina e do Caribe. Desenvolve pesquisas sobre as relações entre a memória cultural, as artes e as ciências não clássicas, com ênfase nas conexões e ramificações entre voz, poema, corpo, séries culturais e paisagem urbana, que se desdobram aquém das dicotomias entre sociedade e natureza. Publicou, entre outros, “César Vallejo: o abalo corpográfico”, “César Vallejo a dedo” (tradução) “Aquém da identidade e da oposição. Formas na cultura mestiça”, “Nicolás Guillén: Motivos de son“, e “Rafael Alberti: Sobre os anjos” (tradução), “América Latina: barroco, cidade, jornal”, “Tempo Solto” (poemas).