martes, 3 de agosto de 2021

 


Confrontado ante la poesía

y ante mí mismo. Hondos

costados los del mar. Oscuros

sus sobresaltos.

Una herbívora gaviota lo sobrevuela,

me sobrevuela.

Confrontado con mis seres queridos,

con mis queridas amistades.

Haberlos traicionado a todos.

Menos en la desnuda lágrima.

Menos en el deseo incandescente.

Yo soy otro hombre ya.

Alguien que abre puertas

y se marcha. Algún otro que no busqué.

Que vino así y me fue tiñendo

desde los calcetines hasta el gorro.

Alguien que abre su puerta

y se va. Que ya se marcha para siempre.

Pedro Granados

 

                               Confrontado diante da poesía

e diante de mim mesmo. Profundas
bordas do mar. Escuros
os seus sobressaltos.
Uma herbívora gaivota sobrevoa.
me sobrevoa.
Confrontado com meus seres queridos,
com minhas queridas amizades.
Tê-los traídos todos eles.
Menos na lágrima desnuda.
Menos no desejo incandescente.
Já sou outro homem.
Alguém que abre portas
e vai embora. Algum outro que não procurei.
Que veio assim e foi me tingindo
desde as meias até o gorro.
Alguém que abre a porta
e se vai. Que vai embora para sempre.

Tradução de Antonio Miranda

Extraído de

POESIA SEMPRE. Número 28. Ano 15 / 2008.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008.  246 p.     Editor Marco Lucchesi.  Ex. bibl. Antonio Miranda